Cada vez que você compra um filhote, morre um animal na carrocinha ou num abrigo.



quarta-feira, 11 de abril de 2012

Três passos para frente, quatro para trás.

Sabem aqueles jogos em que andamos quantas casas o número que cair no dado mandar e as vezes caimos numa casa que nos manda voltar tantas casas? Pois me senti no meio de um jogo desses na última semana.
Eu estava feliz porque, em fevereiro e março, depois de 1 ano sem doar, doei 3 cães adultos, mas a minha alegria durou muito pouco, pois em uma semana abandonaram 4 cães na minha casa.
Essa semana começou no sábado, 31 de março, quando jogaram a Divina no pátio do Catatau e da Minerva. No outro sábado, dia 7 de abril, eu já estava me preparando para dormir quando me chamaram na rua porque havia um cão caído no canto de um muro que tinha sido atacado por 2 cães de porte bem grande. Pensei em não ir olhar, mas fui. O bicho estava acuado no canto do tal muro, tremendo feito vara verde. Estava escuro e eu não conseguia ver se tinha machucado, mas a gurizada que viu o ataque e não parava de tagarelar em volta, dizia que tinha machucado na barriga. Minha cabeça funcionava feito louca, todos em volta falando ao mesmo tempo e eu tentando decidir o que fazer, pegar o bicho ou não pegar? Peguei!
O bicho se trata de uma fêmea. Levei ela para dentro de casa para examiná-la. Ela tinha algumas perfurações pelo corpo, mas não parecia nada grave, na foto acima dá para ver a marca de sangue que ficou no braço dela. Grave foi a minha suspeita quando desconfiei que ela não estava enxergando. Ela continuava tremendo muito, mas bebeu e comeu um pouco, que é um bom sinal. O problema era a falta de orientação, batendo com o focinho nas paredes e móveis e sem olhar fixamente para a minha direção quando eu a chamava. Pensei se isso não poderia ser algo tipo um estado de choque. Como era um sábado, e tarde da noite, não tinha onde levá-la, arrumei uma caminha para a moça e fui dormir.
Na manhã seguinte, o terceiro e o quarto passo que eu daria para trás no jogo, apareceram. Eram dois filhotões machos, abandonados em uma trouxa de lençol no portão da minha casa. Onde largaram o lençol, eles ficaram. Olhei a cena e fiquei pensando o que fazer, meu desânimo era total e as carinhas dos dois, irresistível! Levei comida ainda na rua para ganhar tempo para pensar. O branquinho e maior, que caminhava sem sair de perto do outro, comeu um pouquinho, e o o menorzinho e pretinho que estava se escondendo do sol atrás das folhagens, comeu com mais vontade. Fiz carinho neles, que estavam num estado de sarna deplorável, e então, não tive outra alternativa e levei os dois para dentro. Sem canil vago, expulsei Marrom e Dunga do canil deles, coloquei-os com o Chico e o Migalha e liberei um canil para a nova duplinha.
E eles dormiram o dia todo, não se manifestaram em momento algum, nem parecia que estavam por lá durante todo o domingo. Durante o domingo, Leonardo, eu e a mãe ficamos pensando em um nome para a duplinha. Pensamos nomes de duplas caipiras mas nenhum vingou e a cachorrinha atacada chamamos de "Véia que não é véia". No final do dia, o branquinho não quis comer então resolvi adiantar as coisas e dar um vermífugo para eles.
Na segunda-feira de manhã o canil estava um horror! Era uma lambança só e o desânimo deles era preocupante. Não quiseram tocar na comida e depois de até abanarem o rabinho e tomarem um pouco de sol enquanto eu ajeitava os outros canis, jogamos o dado novamente e caímos na casa que dizia: levar todos no veterinário.
Leonardo paparicando a "Véia que não é véia".
O pretinho menor e que aparentava estar melhorzinho.
O filhotão maior e branquinho e que tinha mais sarna.
A primeira a ser examinada foi a "véia" e a notícia não foi das melhores,pois ela parecia estar grávida. Como ela demonstrava sentir dores laterais, o dr. Rodrigo sugeriu que fizéssemos uma ecografia, que foi feita na quarta-feira e mostrou que não tinha gravidez, mas tinha uma hérnia que deveria ser retirada o quanto antes. De resto, estava tudo bem com a moça, considerando-se que foi atacada por dois cães enormes. Já os bebezões não estavam nada bem. O primeiro a ser examinado foi o pretinho, que estava bem tristinho, mas não tinha febre. O branquinho não tinha reação e estava com a temperatura super alta além de pneumonia. Resumindo: suspeita de cinomose para os dois. Como essa clínica não tem hospedagem com isolamento, saímos correndo ao encontro da dra, Lisi, que fez a internação deles e me deixou preparada para o pior, pois o branquinho foi retirado da caixa de transporte como uma geléca, sem reação nenhuma, nenhuma. Isso foi na segunda-feira. Na terça-feira comentei com o Leonardo que havia encontrado o nome idela para eles: Itamar e Itapior... pelo menos meu senso de humor já estava de volta. Na quinta-feira a dra Lisi ligou para avisar que o Itapior, o branquinho, havia morrido e na sexta-feira morreu o Itamar.
Itamar, acima, e Itapior (abaixo) durante a consulta.
Infelizmente não deu tempo de salvá-los. Apesar de ter me referido a eles como passos dados para trás, não me arrependi de ter voltado essas duas casas tentado fazer alguma coisa por eles. Eles não foram um passo para trás, passo para trás quem deu, foi a pessoa que os abandonou e que não cuidou deles como mereciam, que deve ser a mesma pessoa que tem a mãe deles e que não providencia castração para ela, além de que, se largou na frente da minha casa é por que sabe que cuido e também deve saber que levo as cadelas da vila para castrar, ou seja, é uma pessoa irresponsável.
Estou tentando doar os cães que estão comigo, que são muitos e não tenho condições de cuidar mais, por isso usei a expressão do jogo. Muitas pessoas me dizem que não devo pegar mais animais, que se enxergar, não é para pegar. Eu tenho tentado fazer isso, tenho evitado sair de casa para não ver coisas na rua e quando saio, fixo meu olhar para frente para não ver mais nada, mas se largam na minha frente, na frente da minha casa, como posso ficar indiferente a esses olhares?
A "Véia que não é véia" já fez a cirurgia para retirar a hérnia e passa bem. Mandarei notícias dela em seguida.