Cada vez que você compra um filhote, morre um animal na carrocinha ou num abrigo.



quarta-feira, 29 de maio de 2013

Diário do Madruguinha - 27 e 28 de Maio

Primeiro dia

 "Hoje foi o pior dia da minha vida! Ou a pior noite! A vida já não estava muito boa mas nunca pensei que fosse passar pelo que eu e meu irmãozinho passamos. Era noite e colocaram nós dois dentro de uma caixa bonita, cor de laranja, que depois fiquei sabendo que era uma caixa de um tal de tênis Nike, que foi comprado numa tal de lojas Aldo. Sei lá o que é tudo isso, mas foi o que escutei depois de todo o susto. Pois colocaram nós dois fechados lá dentro. Senti que a caixa balançou por um tempinho e escutava as vozes dos humanos que nos colocaram lá dentro. De repente, o balanço parou e as vozes calaram, dando lugar a latidos. Eram muitos latidos! Comecei a ficar assustado mas fiquei dentro da caixa esperando que os humanos nos pegassem e nos acalmassem, o que não aconteceu. O meu medo foi tanto, que não sei direito o que aconteceu mas acho que o meu irmãozinho, que era um pouco maior e mais fortinho que eu, conseguiu levantar a tampa da caixa e saiu. Eu tava com medo de fazer o mesmo que ele mas os latidos eram tantos e ficaram tão fortes que eu acho que acabei fazendo.
  Estava muito escuro e frio. A grama estava molhada e eu no meio daquela escuridão, não vi mais meu irmão, que era pretinho, não tinha nenhuma manchinha branca para eu poder distingui-lo no meio da escuridão. Nessa confusão toda, os latidos aumentaram ficando uma barulheira confusa, e com medo e frio, não me mexi, ficando onde estava, encolhidinho, ao lado da caixa bonita. Eu comecei a ficar gelado, queria o calor da minha mãe mas não sabia onde ela estava. Chamei por ela mas percebi que cada vez que miava, os latidos voltavam então, fiquei quietinho, paradinho ali, encolhido, meio dormindo, meio apavorado, torcendo para que o dia amanhecesse logo ou quem sabe, meu irmão volta e explica o que está acontecendo? Quem sabe minha mãe aparece e me deixa mamar aquele leitinho gostoso que só ela tem e me aquece com seu abraço caloroso? Quem sabe aqueles humanos me levam de volta para a minha casa?
  Meu desejo se realizou, não exatamente como imaginei. Não era minha mãe, nem meu irmãozinho, mas  finalmente, alguém me tirou daquela grama molhada e gelada e me enrolou num pano macio e quentinho.  Eu ouvia um humano falando comigo, mas não era o mesmo humano que me me colocou dentro da caixa. Acho que desmaiei! Acordei com pingos de leite caindo na minha boca. Lambi um pouco, meio dormindo ainda. Eu estava muito fraco e apesar de já estar mais aquecido continuava tremendo e dormi de novo! Acordei com os pingos de leite na minha boca de novo e assim foi mais umas duas vezes, até que aquela voz me desenrolou e colocou um pratinho muito cheiroso no meu nariz. Bah! Foi aí que percebi que eu estava com fome e comi um montinho daquele grude.
 Aí, me senti um pouco melhor, dei uma espreguiçada e comecei a entender o que aquela voz falava. Ela me chamou de preguiçoso, disse que eu dormi a manhã toda, que eu tinha que levantar porque ela queria ver se eu estava bem. Mas eu não levantei. Tava tão bom ali! Ainda mais que ela me colocou no solzinho! Bah, que delícia! Eu tava quentinho e com a barriguinha cheia! Mas não tava afim de levantar.
 De repente, apareceu um monte de gatos e cachorros na minha volta, todos me cheirando. Nem me assustei com os cachorros porque fiquei procurando o meu irmão. Olhava em volta para ver se um daqueles gatos era ele ou a minha mãe, mas não! 
Mais tarde ouvi a voz falando com outra voz, que eram dois mas os cachorros mataram o outro. Aquilo ficou martelando na minha cabeça! Não entendi direito o que significava mas não saía da minha cabeça. Fiquei com uma sensação ruim... ela também falou que foi às quatro e meia da madrugada que os cachorros latiram e que ele havia ficado no sereno até às 6h30. De quem será que ela estava falando?
Esses humanos são engraçados. A dona daquela voz ficou feliz porque tentei pegar a cordinha de uma caixinha preta que ela ficava apontando pra mim o tempo todo. Ela disse "ah, tu brinca, né? Então tu tá bem?" Claro que tô bem! Ué! Mas cadê a minha mãe?
 O resto do dia foi intercalado com sonecas, aquele grude gostoso e o dedão da dona da voz acariciando a minha cabeça. Eu tava começando a gostar. Ah, ela disse que meu nome vai ser "seu Madruga" mas que podem me chamar de Madruguinha e que tem a ver com a hora em que me deixaram no portão da casa dela.

Segundo dia 

 No outro dia, aquela voz disse que hoje eu ia tomar vermífugo (sei lá o que é isso...se tiver o mesmo gosto do grude, tudo bem!) e me colocou dentro de uma caixinha branca. Eu disse pra ela que essa caixinha era pequena, que eu preferia aquela bacia onde eu estava com os paninhos macios, mas ela pegou aquela outra caixinha preta com a cordinha pendurada, apontou pra mim de novo e me tirou dali, rindo da minha cara, dizendo que nem dava pra me chamar de "quarto kilo", que eu só tinha 200gr... humanos... vai entender...
Em seguida me largou no chão, me segurou de um jeito que eu não gostei e enfiou uma coisa na minha boca de onde saiu o tal vermífugo que tinha um gosto horrível!!! éca!! 
Passada essa experiência desagradável, passeamos de carro, fomos até o veterinário. Lá, entre outras coisas, descobriram que sou machinho, o que para mim não foi nenhuma novidade, que eu sou muito novinho e tenho muito pouco peso e que por isso, ainda não podem colocar anti-pulgas em mim. Adorei passear de carro mas voltamos para casa, onde foi aquela mesma rotina de grude - carinho - soneca - carinho - leitinho - carinho - soneca - grude -  tô com sono...  sonecão...
Olha eu dormindo! A voz disse que os pelos do meu bigode e das minhas sobrancelhas são brancos e que são lindos! Ah, tá! Valeu! Boa noite!